Sem intervalo, sem aplausos, sem interrupções, durante uma hora o público é levado numa onda crescente de tensão dramática através das mais belas e virtuosas páginas românticas de Chopin, Beethoven, Rachmaninoff e Scriabin. Tonalidade trágica por excelência, dó sustenido menor é o fio de Ariadne deste recital insólito.
Recital em dó sustenido menor
“Uma flor entre dois abismos”
João Costa Ferreira piano
Luís Nascimento image
Programa
S. Rachmaninoff – Prelúdio, op. 3 n.º 2
F. Chopin – Valsa, op. 64 n.º 2
A. Scriabin – Estudo, op. 2 n.º 1
F. Chopin – Nocturno, B. 49
F. Chopin – Prelúdio, op. 45
A. Scriabin – Estudo, op. 42 n.º 5
F. Chopin – Estudo, op. 25 n.º 7
F. Chopin – Nocturno, op. 27 n.º 1
S. Rachmaninov (arr. A. Richardson) – Vocalise, op. 34 n.º 14
F. Chopin – Fantaisie-Impromptu, op. 66
L. van Beethoven – Sonata quasi una Fantasia, op. 27 n.º 2
Acerca
Embora este projecto tenha sido concebido em torno das mais célebres obras do “grande repertório”, o recurso a uma única tonalidade confere-lhe uma dimensão experimental. Dó sustenido menor suscita um horizonte estético e uma atmosfera psicológica que Liszt, a propósito da Sonata quasi una Fantasia, op. 27 n.º 2 de Beethoven, também conhecida por “Sonata ao Luar”, terá designado de “abismo”. Um abismo que ilustra o fascínio dos românticos pelas profundezas e pelas trevas, que evoca um imaginário onde tormento, mistério e destruição se entrelaçam numa viagem vertiginosa.
Seja por razões relacionadas com a afinação dos instrumentos ou porque se acredita que cada tonalidade possui propriedades expressivas singulares, a composição de obras em dó sustenido menor é insignificante antes do período romântico. Veja-se a escassez de obras nesta tonalidade nas monumentais produções de Haydn, Mozart, Beethoven ou Schubert. É por essa razão que o recurso exclusivo à tonalidade de dó sustenido menor se afigura pertinente neste recital para celebrar o romantismo musical do século 19.
A “Sonata ao Luar” de Beethoven, a primeira obra em dó sustenido menor a entrar para o panteão das obras-primas, pode ser vista como o alvorecer de uma nova era. Ponto culminante deste recital, ela representa o horizonte dos compositores vindouros no qual eles vislumbram a herança do passado.